Sozinha,
sempre sozinha. Mas... dessa vez parecia que era bem diferente... a solidão...
aparentava ser maior... Ele dissera que respeitaria a decisão dela. Que homem
responde assim a um término? A resposta óbvia e a que ela não queria encarar
era: um homem que não estava apaixonado. Mas como um homem fica com uma pessoa
por dois anos sem estar apaixonado? Era melhor nem tentar responder, isso só
traria mais dor e sofrimento.
___
Senhora, aqui está a sua taça de vinho.
___
Obrigada.
Mirava
a bebida sem tocá-la.
___
Posso me sentar?
A
pergunta vinha de um estranho. Alto, cabelos castanhos lisos, queixo quadrado e
olhos decididos.
___
Não.
___
Eu acho que você está sozinha e que eu posso sentar aqui.
___
Quanto a mim, eu acho que você está sendo extremamente inconveniente.
___
Acho que tem muito mais coisas sobre mim que você pode conhecer.
___
Isso se eu estivesse interessada.
Olhavam-se
nos olhos. Havia uma batalha sendo travada ali.
___
Mas você vai ficar.
___
Convencido! _ disse indignada.
___
Creio que começamos com o pé esquerdo. __ o estranho decidiu aliviar a tensão
__ Meu nome é Leandro. Eu só vim até aqui porque o bar está cheio, não há
nenhuma mesa vazia e eu não queria ficar em pé, achei que seria boa ideia, já
que você também está sozinha, fazermos companhia um para o outro.
___
Eu posso estar esperando alguém.
___
Isso é verdade, mas a observei. Chegou com o rosto carregado, poderia ser
resultado de um dia ruim no trabalho ou uma briga com o namorado. Pelo olhar
perdido, decidi pelo último... provavelmente estava relembrando uma série de
coisas... por fim, e não menos importante, se estivesse esperando alguém,
provavelmente estaria com o celular em cima da mesa, caso a pessoa ligasse
dizendo que iria se atrasar, mas o seu está na bolsa, o que significa que
precisa conversar um pouco.
Tudo
o que o ele dissera era verdade.
Não
sorriu, mas não se opôs a presença
dele à mesa, apenas pegou sua bebida.
O
fato de ela não falar nada parecia não incomodá-lo.
“Vai
ver ele só queria mesmo sentar.” Pensou.
___
Você ainda não me disse o seu nome. Agora que já somos amigos, seria bom saber
como devo chamá-la.
___
Sou Dalila.
As
pessoas sempre se sentiam impactadas ao ouvir seu nome, lembravam da mulher que
traiu Sansão.
Não usou
de artifícios para tocá-la, apenas fazia questão de sustentar o olhar curioso
que lhe era dirigido, quando. Sentia que ela estava atraída por ele, mas como
um leopardo, não tinha a menor pressa em atacar sua presa, sua atitude com a
moça era quase displicente, por assim dizer.
Normalmente,
era uma mulher comedida, sensata, mas naquele momento se questionara sobre onde
toda aquela solidez a levara; Wagner, o ex, parecia ser o candidato perfeito
para o cargo de seu marido: tinha um bom emprego, um carro razoável, pelo menos
não estava caindo aos pedaços, era mais velho, vivido, sem filhos...
Pensar
nele ainda a deixava triste, mas não ficaria... não com aquele homem todo a sua
frente!
De
repente, sentiu uma mão subindo pela sua coxa e a deteve.
___
Você não é nada sutil, heim!
Estava
afogueada, com a respiração acelerada.
___
Queria saber se você é tão quente quanto parece.
Dito
isso ele a beijou, longa e demoradamente.
Aquela
era a deixa para pedirem a conta.
Ainda
agarradinhos e trocando beijos ardentes, fizeram sinal para um táxi que
apontara na esquina. Ela foi a primeira a entrar, chegou para o lado e deixou
espaço para que ele fizesse o mesmo, mas a porta se fechou.
___
Boa noite, querida. Cuide-se.
Pasma,
ela o viu se afastar.
___
Para onde vamos, senhora?
Envergonhada
pela situação óbvia, ou pelo menos assim parecia ser em sua cabeça, deu o seu
endereço.
A
casa, como sempre, estava silenciosa. As paredes brancas, sem quadros ou fotos,
pareciam estar no mesmo lugar; a cama estava vazia e desarrumada, como a
deixara; a louça na pia indicara que tomara café sozinha.
___
Patético.
Caiu
na cama em um choro convulsivo. Odiava sua vida, odiava Leandro... Naquele dia,
podia-se dizer que odiava a si mesma.
As
lágrimas secaram sem que percebesse, sem que se desse conta de que o sono
estava tomando conta dela. Soluçou um pouco, suspirou e dormiu.
Sonhou com o ex... ele estava lhe estendendo as
mãos, mas atrás dele só havia uma luz desbotada e uma casa suja. Deu-lhe as
costas, foi então que viu Leandro, ele estava nu. Ela sorriu para ele e
caminhou em sua direção, mas seus olhos estavam frios, ele a subjugou, fez com
que se ajoelhasse. Frente a frente com seu membro, ela sente apenas o impulso
de colocá-lo na boca e sugar. Jamais havia gostado de fazer sexo oral, mas...
parecia tão certo, tão bom.
Ele puxou com força seus
cabelos para trás, ela queria continuar, mas ele não permitiu, apenas a olhou,
com o pênis ereto. Aos poucos ele foi diminuindo a pressão em sua cabeça e ela
esfregou o rosto nos pelos encaracolados e grossos.
Em um piscar de olhos,
Wagner estava ao lado dela, olhando-a com desdém.
Ela saiu correndo dali,
correu até suas pernas pesarem como chumbo e não conseguir dar mais um paço.
Acordou cansada e suada,
era sábado, dia de lavar a roupa e limpar a casa. Resolveu que não faria nem
uma coisa nem outra, iria à praia. Foi sozinha. Esse tipo de solidão não a
incomodava, até gostava de sair só, embora não gostasse de estar nessa condição
no final do dia, mas sabia que quando chegasse estaria exausta, talvez nem
comesse nada, tomaria um banho e dormiria, esperaria o domingo.
E assim foi...
E assim foi durante toda aquela
semana e as seguintes: casa, trabalho, trabalho, casa.
Uma amiga, Lúcia, fazia
aniversário naquela sexta – feira, era sempre muito animada, mas andava triste
por conta de um divórcio difícil: o marido, depois de doze anos de casados,
exigia ficar integralmente com a casa que haviam comprado juntos. A insólita
situação estava consumindo a alegria de viver da pobre mulher.
Os amigos, cientes do que
estava se passando, resolveram levá-la para comemorar. O lugar escolhido foi
justamente o restaurante-bar onde Dalila conhecera Leandro.
Tentou convencê-los a irem
para outro bar, mas suas tentativas foram inúteis, alegaram que lá era a meio
caminho da casa de todos.
A aniversariante ficou comovida
com a homenagem, fez discurso, agradeceu a todos, tirou tantas fotos quanto
pôde.
___ Só não é feliz quem
não quer.
A voz sussurrada vinha de
alguém que estava atrás dela.
Muda de espanto e raiva,
se virou furiosa. Havia fogo em seus olhos. Resplandecente, ele sorria.
___ Não vai me apresentar
à aniversariante?
Colocou firmemente a mão
em sua cintura e foi até onde estavam. Identificou-se como sendo um amigo de
Dalila e o convidaram para juntar-se ao grupo. Solícito, tirou mais fotos de
todos e conversou bastante.
Pálida, a moça não
conseguia sair de seu torpor, para ela a festa havia acabado.
___ Por que você não
relaxa?
___ Você é muito cínico!
Depois de tudo o que aconteceu...
A resposta dele foi
abafada pelos gritos de felicidade com a chegada da torta para cantarem
parabéns.
___ Ah, ha, uh hu, Lúcia
eu vou comer o seu bolo. __ cantavam.
Meio embriagados, mas
muito felizes, um a um foi embora.
Dalila pegou sua bolsa e
se encaminhou para a saída.
___ Espere. Por favor,
espere.
Contrariando seus próprios
instintos, ela parou.
Impetuosamente, ele se
aproximou e começou a cheirar seu pescoço.
___ Espere. __ disse com
voz rouca __ Ainda não pude te falar...
___ Somos adultos, sabemos
o que houve...
___ Eu vi que você não
estava legal... não podia me aproveitar disso.
___ Essa foi a desculpa
mais esfarrapada que eu já ouvi.
___ É verdade! __ disse
indignado.
Ousado, acariciou-a na
nuca e desceu lentamente a mão por suas costas, sabia que havia derrubado a
resistência dela. Beijou-a.
Dessa vez entraram no táxi
juntos. Ele a levou a um motel que costumava frequentar. No elevador, ele
sentiu um resquício de arrependimento da parte dela, que tratou logo de abafar
com carícias deliciosas. Ela não o havia esquecido, e ali consistia a vantagem
dele.
Colocou a banheira para
encher, ligou a música e pegou uma bebida no frigobar. Ela o observava e
percebeu como ele se movia naquele ambiente, parecia que estava em casa; Sentiu
uma pontada de ciúme no coração, a primeira de muitas.
“A água está maravilhosa.”
Pensou. “Ele sabe agradar uma mulher.”
Quando ele entrou, sentou
do lado oposto ao dela, apenas bebericava o vinho e a olhava. O sorriso que ela
lhe dirigiu mostrava como estava feliz.
Fez sinal para que se
aproximasse, abriu as pernas e Dalila sentou no meio dele. Leandro massageou
brevemente seus ombros, tocou-lhe o seio direito, sem pressa, com a mão
esquerda, acariciou seu ventre, passando para a parte de baixo. Como um perito,
encontrou um pequeno ponto, uma bolinha tensa e levemente enrijecida.
Ela suspirou, gemeu
alto...
Ele não se deixou
impressionar por isso, continuou tocando-a, mas com o cuidado de não penetrá-la
enquanto estava na água para não correr o risco me ferir seu genital.
Foram para a cama. Ali ele
não foi gentil como havia sido na banheira. Prendeu-a jogando todo o peso em cima
dela e penetrou-a com força. Quando Dalila pensou em dizer algo, o único som
que saiu de sua garganta foi um longo e lascivo gemido. Ela estava gostando de
ter aquele homem forte e grande em cima dela, penetrando-a impiedosamente.
Mas ela não era uma
gatinha tão mansa assim. Com ímpeto conseguiu ficar por cima dele e controlar a
cadência dos movimentos. Leandro segurou seus quadris, apalpou suas nádegas,
até que a penetrou por trás com um dedo. A dupla penetração levou-a ao delírio.
Jamais havia feito sexo daquele jeito, Wagner era extremamente trivial nesse
ponto.
Com um movimento brusco,
ele a dominou novamente e a virou de costas, assustada, pensou nas milhares de
coisas que escutara sobre o que estava prestes a acontecer. Pensou em gritar,
pedir por socorro, quando sentiu a mão dele em sua vulva, acariciando-a,
estimulando-a...
Envergonhada por ter tido
tais pensamentos, começou a entrar no clima, quando sentiu que ele beijava suas
costas, foi fazendo isso até embaixo. A língua dele parecia não cansar nunca.
Preconceituosa, ela achava aquela região inóspita demais, não achava que algo
assim pudesse ser tão bom.
Molhada pela saliva dele
tanto atrás quanto na frente, sentiu ainda que algo pegajoso estava sendo
espalhado nela, mas não se importou, os dedos dele continuavam dedilhando-a sem
parar.
Consciente de que era a
primeira vez dela naquela modalidade, Leandro colocou um pouco, depois mais um
pouco, mordiscou-lhe a nuca, mais uma vez ouviu o gemido dela... mais um
pouco... até que ouviu:
___ Coloca tudo.
Vitorioso, assim fez,
entrou, saiu, tornou a entrar. Ela era tão apertada...
Sentiu que ela estava
gozando, sentiu o pequeno gozo dela em seus dedos e as contrações que sentiu em
seu membro, ainda dentro dela, indicavam isso.
Como já não aguentava mais
segurar, gozou também, com uma última arremetida para frente.
Ele se esticou ao lado
dela, não a encarou, nem a tocou, apenas olhou para o teto.
Sem saber o que fazer,
afinal achava que uma experiência tão maravilhosa como aquela deveria ser
finalizada com beijos e abraços calorosos, Dalila foi ao bar pegar alguma coisa
para beber. Viu uma garrafa d’água, mas precisava de algo forte e o melhor que
encontrou foi a garrafa de vinho recém aberta. Não ousou olhar para a cama e
perguntar se ele queria, serviu-se e ficou parada ali.
Desconcertada, tomou o
vinho de um gole só. Todos os seus demônios a afligiram naquele momento, se
sentia suja, usada...
Ligou o chuveiro, deixou
que o ambiente ficasse coberto de vapor d’água, queria se esconder.
“Não posso me esconder da
minha própria mente.”
Na saída, percebeu que ele
estava dormindo.
___ Calhorda!
Ele se mexeu na cama ainda
nu.
“Olhando ele assim, de pau
mole, nem parece tanta coisa.”
Pensou enquanto vestia as roupas. Queria
ir embora e largar ele ali sozinho, mas era uma ideia extremamente infantil e
sabia disso. Deitou-se ao lado dele, completamente vestida, e esperou que
acordasse.
Sem se dar conta de todo o
tumulto que se passava no coração dela, Leandro tomou banho e a deixou em casa.
A despedida foi simples, com um beijo rápido.
Como haviam trocado
telefones ainda no táxi, ela achou que ele ligaria no dia seguinte, mas o
telefone não tocou. Com o orgulho ferido, mas ainda com um arremedo de
dignidade, ela também não o procurou.
Lembranças não podem ser
descartadas, mas há como evitar novos pesares. Resolveu que não voltaria ao
lugar onde se conheceram, não queria se trair, expor seus sentimentos.
Lúcia foi uma grande
inspiração para ela, a força com que levava a vida para frente e o vigor com
que trabalhava, não deixaram Dalila esmorecer.
O telefone da mesa dela
tocou.
___ Oi, moça.
Só quem a chamava assim
era... Wagner.
___ Está mais calma, com a
cabeça mais fria?
___ Oi. Ah...
___ Olha, eu sei que deve
estar ocupada aí, mas pensei em almoçarmos juntos, o que acha? Se você quiser,
chego em cinco minutos, hoje eu vim atender um cliente aqui no centro.
Aquilo realmente a
surpreendeu. Wagner convidando-a para almoçar.
___ Eu... oh... eu não
esperava.
___ Se for uma má hora
para você, posso vir outro dia.
Ficou mais pasma ainda.
___ Eu vou descer, estarei
na portaria em cinco minutos.
Pediu a Antônio que
segurasse as pontas para ela caso a procurassem, disse que teria de resolver um
problema e demoraria para voltar.
Ajeitou a roupa o melhor
que pôde, retocou a pintura e foi.
Não sabiam como se
cumprimentar, preferiram um aperto de mão. Nervosos, acabaram falando ao mesmo
tempo, mas nada que realmente fizesse sentido. Ficaram calados até a chegada ao
restaurante.
Pedidos feitos, era hora
de conversar.
___ Eu sou uma pessoa
difícil. __ disse ele __ Reconheço isso, às vezes sou meio distante...
“Às vezes... como ele é
condescendente consigo mesmo.”
___ Mas eu gosto de
você... senti sua falta.
Ficou emocionada, sabia o
quanto ele era fechado, as palavras não brotavam facilmente do fundo de sua
garganta.
___ Quero... quero ficar
com você. Prometo ser mais carinhoso.
Embora soubesse que aquilo
não seria possível, ele era por natureza um homem seco, percebeu que estava
disposto a tentar, sentiu que poderia fazer o mesmo.
Docemente segurou a mão do
homem a sua frente, ainda que não o enxergasse de verdade.
O tempo passou
incrivelmente rápido, tinha que voltar ao trabalho. Despediram-se com um beijo
e um abraço e a promessa de que se falariam à noite.
Não
se podia dizer que estivesse feliz, nem pisando nas nuvens, mas estava
tranquila... segura; Queria estabilidade em sua vida, não queria ter que
recomeçar... se abrir para um novo amor, correr o risco de dar tudo errado
novamente...
Mas
a monotonia dos dias e das conversas eram perseguidores implacáveis... via o ex
amante em todos os lugares... pensava tanto nele e tantas vezes ao dia, que
pensou em procurar ajuda profissional, acreditava estar ficando louca.
O
vestido, que havia comprado especialmente para aquela ocasião, jazia intocado
em cima da cama.
Suspirou
fundo e foi se arrumar.
Batom,
lápis, sombra, pó para o rosto, nada daquilo poderia esconder o desânimo que
repousava em sua alma. Faria um esforço para que não percebessem.
___
Bela! Você está belíssima.
___
Obrigada, querido.
Os
amigos dele foram bastante discretos quanto ao tempo que passaram separados,
fingiam que isso jamais havia acontecido. De alguma maneira se sentiu
confortável com isso, não se lembrar da separação significava não se lembrar de
Leandro, e nem de nada que haviam feito.
Antes
de a festa terminar, seguiram para a casa de Wagner.
Ela
gostaria de ter ido a um motel, considerava aquele dia especial, haviam
retomado o namoro, estavam ... alegres. Mas já que o convite não fora feito,
preferiu o silêncio.
Com
olhos críticos, esquadrinhou o quarto todo. Tudo estava nos mesmos lugares, até
a foto que tiraram na praia, na única viagem que fizeram. O sorriso parecia
congelado, vazio de promessas.
“Ele
deve ter guardado e colocado de volta, só pode.”
Havia
comprado uma lingerie bem sexy, custara absurdamente caro, mas
achava que valeria a pena, ele ficaria
surpreso com a transparência da calcinha e do soutien e como lhe caíam bem.
Ele
acariciou seu corpo e sussurrou em seu ouvido:
“Tira
a calcinha.”
Apertou
os olhos com força e pensou na falta de tato dele, sequer reparara nas peçãs,
ou disse que estava bonita.
“Ele
sempre foi assim... displicente.”, concluiu.
Obediente,
ela a retirou e esperou que ele tirasse a cueca. Excitado, não se demorou em
preliminares. O ritmo era lento, tranquilo... o pênis estava inchado e duro. Ela sempre se admirava
em como ele ficava ereto rápido. Tinha um membro bonito, de tamanho médio e
grosso, mas, infelizmente não sabia usá-lo.
Como
Wagner não gostava que ela ficasse por cima, acabava perdendo a excitação, era
o próprio quem ditava como seria e em quais posições ficariam.
Era
evidente que estava preocupado com sua performance, não queria ejacular rápido
demais, Dalila odiava quando fazia isso. Decidiu dar uma paradinha, sair um
pouco e tornar a entrar. Ela reconheceu o esforço do namorado, mas lamentou
profundamente, Wagner havia parado justo quando ela começava a sentir algo, o
orgasmo não chegaria para ela, não àquela noite.
Em
alguns minutos ele gozou. Beijou-a e virou para o lado. Sabendo que seria
impossível conciliar o sono, ela foi para a sala e ligou a televisão.
Acordou
por volta das cinco horas da manhã com o controle da tv nas mãos e muita dor
nas costas. Não quis ir para a cama e fingir que nada acontecera, foi para fora
e sentou em uma cadeira que sempre ficava ali. Observou o nascer do sol.
Que
esperar de uma relação como aquela, na qual sabia que jamais sentiria prazer?
Não tinha resposta. Aninhou-se em si mesma e esperou que a imensa bola de fogo
estivesse alta no céu.
Enquanto
colocava a mesa do café, pensou em Leandro, em como seria fazer o desjejum ao
lado dele.
“Impossível,
ele não é nada romântico. Pelo contrário!”
Ao
se dar conta de que não conseguira ver o ex affair
naquela cena, visualizou Wagner, com seus olhos meigos.
Com
um dar de ombros, concluiu que não se pode ter tudo.
Passearam
pelo shopping e foram ao cinema, esse era o programa favorito de Wagner, que
dificilmente aceitava as sugestões dela.
Dalila estava impaciente,
e, antes que o namorado percebesse sua inquietação, disse que estava com um
pouco de dor de cabeça, que gostaria de ir para casa. Ainda era sábado, haviam
combinado de passar o final de semana juntos, mas não aguentaria mais uma noite
insossa como a última que passaram juntos.
Ela se sentia um lixo, se questionava
como poderia pensar em Leandro, um homem frio, calculista e sem caráter. As
respostas não vieram durante o caminho de volta para casa, muito menos no dia
seguinte.
Wagner
não tornou a aparecer para convidá-la para almoçar ou fazer algum programa
juntos. Isso minava completamente sua vontade de ficar longe de Leandro. Já que
era para não ter amor, pensava, que tivesse ao menos um pouco de prazer.
Dizem
que o inimigo atenta nas horas mais sombrias, no caso dela, foi ainda com o sol
se pondo.
___
Alô.
___
Oi, linda, tudo bem?
___
Oi.
___
Estou te esperando aqui.
___
Desculpe, Leandro, mas não posso te encontrar.
___
Não quer nem saber onde estou?
Ela
mordeu o lábio, sinal de que estava nervosa.
___
Não.
___
Mas eu vou te dizer mesmo assim. Estou na porta da sua casa.
Na
porta dela! Sem avisar?! Ele era um irresponsável total. E se o Wagner
estivesse com ela?
Ressabiada,
resolveu abrir verificar. Ele estava mesmo ali, parado do outro lado da rua,
com o que parecia ser umas sacolas de supermercado.
Veio
em direção dela calmo e sorridente.
___
Olha, preciso te falar uma coisa. __ respirou fundo __ O meu namorado voltou...
quer dizer, eu voltei com o meu ex... __ mais um suspiro __ Não posso ter nada
com você.
___
Isso significa que ainda podemos comer alguma coisa juntos.
Ele
passou por ela na porta e foi perguntando onde era a cozinha.
___
Leandro, estou falando sério. Você não pode ficar aqui. __ ela começou a se
desesperar e aumentar a voz __ Você não pode sumir e reaparecer do nada como
vive fazendo!
O
homem parecia não ouvir uma palavra do que ela dizia.
Perguntou
simplesmente onde guardava a frigideira e o liquidificador, pediu uma série de
utensílios, ao que foi atendido. Dalila estava confusa, mas não havia muito o
que fazer, se conformou e tratou de ajudá-lo a preparar o que quer que fosse
fazer.
Os
ingredientes eram bem diversificados: frango, sal, pimenta da Jamaica, ricota,
tomate picado, papaia, soda limonada com zero açúcar, caldo de frango e vinagre
balsâmico.
___
Posso ao menos saber o que você está preparando?
___
Essa é uma receita de frango vietnamita que eu aprendi com uma ex namorada. Ela
é chefe de cozinha e me ensinou umas coisinhas.
Leandro
era hábil na cozinha, temperou o frango com sal e pimenta, em seguida recheou-o
com ricota e pimenta, grelhou os rolinhos e reservou. No liquidificador bateu o
papaia com a soda limonada e levou ao fogo, pediu-a que mexesse um pouco o
molho até engrossar. Na frigideira em que o frango foi grelhado, colocou o
tablete de caldo e o vinagre balsâmico, assim que a mistura ferveu, adicionou
tudo ao molho que Dalila ainda mexia no fogo.
Dispôs
todo o creme no fundo de um prato grande e o frango no centro.
Dalila se preparava para colocar a mesa
do jantar, quando foi surpreendida por Leandro agarrando-a por trás.
___
Para com isso! __ disse com voz fraca __ Você sabe que eu não posso.
___
O que eu sei é que você me quer.
Tirou
a blusa que ela usava, mostrando os seios firmes, arrancou a saia e a calcinha
expondo-a em toda sua nudez.
A cozinha era bem pequena, consistia apenas de
um fogão, geladeira um armário e uma pequena mesa com tampo de granito e quatro
cadeiras.
Ele
a empurrou para a mesa, o contato frio do granito com os seus seios fez com que
a pele dela ficasse arrepiada. Leandro parecia não se importar com isso, queria
apenas satisfazer sua necessidade de possuí-la, de segurar seu quadril, de
dominar a amante.
A
saliva dela se misturava ao sabor dos temperos que haviam sido manuseados na
mesa, não tinha forças e nem vontade de sair dali, mas Leandro ainda tinha planos.
Abruptamente aprumou-se, colocou-a de frente para ele e a encostou na parede.
Dalila não tinha nenhuma outra opção que não fosse abrir as pernas para que
novamente se enterrasse nela. Levou uns poucos segundos para que as roupas dele
fossem retiradas. Agora que estava livre podia levá-la para o box. Com a água
quente escorrendo por seus corpos, relaxaram sentiram o beijo um do outro, ele
sabia ser carinhoso quando queria.
Ela
o beijou na orelha, pescoço, peito, barriga e nos pêlos crespos da virilha.
Abriu a boca, deixou que a água do chuveiro a enchesse parcialmente, Leandro
não fazia a mínima ideia de que experimentaria o melhor sexo oral de sua vida.
Com
o calor da boca aumentado pela água quente, o torpor causado pela excitação era
muitas vezes maior. Quando sentiu que ele iria ejacular, Dalila deixou que ele
o fizesse pelo seu rosto e seios, como símbolo de sua total rendição, como se
aquele esperma fosse uma tatuagem, algo que indicava que ela tinha um dono.
Deliciado,
ele acariciou sua vulva até que também gozasse.
Com
uma toalha enrolada na cintura e ela completamente vestida, finalmente
degustaram o prato que ele havia preparado.
Dalila
estava feliz, luxuriantemente feliz.
Pensava
em como se davam bem na cama, os corpos se ajustavam com perfeição. Leandro já
não parecia aquele homem distante da última vez, ele até cozinhara para ela.
___
O telefone está tocando. Não vai atender?
Ela
sabia quem era, queria fingir que não estava em casa.
___
Alô.
___
Oi, morena linda, melhorou?
Ela não
sabia o que dizer, não com Leandro a encarando com tanta curiosidade.
___
Um pouco, tomei um remédio.
“E
que remédio!” __ pensou.
___
Ah, que bom, que bom. Não quero essa cabecinha linda doendo.
A
situação era no mínimo rara para ela, o namorado no telefone querendo saber
como estava, se a dor de cabeça havia passado e o amante sentado a mesa olhando
para ela. Na verdade ela sentia dor, mas uma dor gostosa nos músculos da vagina
de tanto que haviam transado.
___
Amanhã estarei novinha em folha.
___
Que ótimo, minha querida. Eu só liguei para saber como você está.
“Com
a sensação de que eu não passo de uma vagabunda.” Pensou.
___
Obrigada por ter ligado.
___
Um beijo.
___
Beijo.
De
cabeça baixa, ela voltou para a mesa.
___
Olha, me desculpe... eu... eu acho melhor você ir embora.
Estava
profundamente culpada pela traição.
___
Não, eu não vou embora.
___
Por favor, não dificulte tudo ainda mais.
___
Dalila, eu não me importo que você esteja com esse cara ou com qualquer outro.
Eu gosto de ficar com você. Quando der, a gente se encontra, sei lá.
___
Quando der?... Sei lá?... Não funciona assim! Eu não sou um assim! __ tentou se
acalmar __ Por favor, eu já pedi, vá embora!
Ela
não se levantou da cadeira, apenas ouviu ele se movimentando, vestindo as
roupas e batendo a porta.
Pegou
a toalha que ele usou e colocou na máquina para lavar e limpou toda a cozinha. Movimentava-se
freneticamente para apagar a passagem daquele homem pela sua casa.
Na
manhã seguinte, sentiu falta de Lúcia no trabalho. Perguntou pela colega e
disseram que ela tirara folga naquele dia para comparecer ao fórum, tratava-se
da última audiência de divórcio.
A
moça vira as fotos do casamento da amiga, estava lindíssima, radiante em seu
vestido de noiva. Em alguns anos, todos os sonhos viraram pó, sobrara apenas
uma fria disputa da casa que compraram juntos e alguns objetos.
Confiante,
Dalila acreditava que com ela e Wagner seria tudo diferente. Ele era um homem
pacato, sem grandes paixões, seria um casamento maduro.
“Nós
nos escondemos tanto e por tanto tempo, de mudanças ou até mesmo de
perspectivas, que acabamos não sabendo quando parar de fugir e perdemos de fato
o rumo.” __ pensou.
Sabia
que aquele pensamento se encaixava como uma luva em sua situação. O casamento
jamais seria como ela sonhava, havia diversas nuances que ela estava
desconsiderando, mas preferia crer que não eram significativas.
A
fim de comemorar a nova contagem do namoro, já fazia um mês que haviam reatado,
reservou um quarto em uma pousada aconchegante em Conservatória. Wagner achou a
ideia boa, descansar um pouco seria ótimo.
Combinaram
como seria a viagem e no dia marcado ele a pegou em casa.
O
tempo passa para todas as cidades, mas Conservatória parecia ter conseguido
deter esse processo: ruas de pedra, plantas ao longo de toda a praça, igrejas
lindas... Era um sonho estar ali, curtir aquele lugar. Havia muito que ver.
Wagner
queria ir para a pousada primeiro, deixar as malas e descansar um pouco. Dalila
achou justo.
Ele
ainda estava no banho quando entrou uma mensagem no celular dela, não dizia
quase nada, estava escrito apenas “Oi.” Leandro sabia se fazer ser lembrado. Pensou
em responder, mas ignorar seria muito melhor, afinal, estava tentando fazer seu
relacionamento dar certo.
Foram
conhecer o comércio local, compraram algumas lembrancinhas para dar de presente
e pararam para almoçar em um restaurante delicioso. O dia estava sendo muito
bom. Ela quis ir a um ponto turístico famoso, a Cachoeira da Índia, mas Wagner
queria voltar para a pousada, disse que estava cansado. Ela o acompanhou com o
semblante fechado.
Não
desistiria tão fácil de seus planos, à noite se arrumou toda e o acordou.
___
Acorda dorminhoco, hora de ir passear. Falei com a recepcionista, ela nos
indicou uma seresta muito bacana. Vamos?
___
Dalila, andamos bastante hoje. Por que não ficamos aqui e vemos algum filme?
___
Porque filme nós vemos em casa.
Vendo
que ela não mudaria de ideia, ele resolveu sair da cama. Estava irritado, achou
que iria descansar, dormir, pensou tudo, menos que teria que se cansar mais do
que quando estava trabalhando.
Havia
um grupo de turistas animados no local, encontraram uma mesa e pediram bebidas.
___
Essas músicas são meio antigas.
___
Wagner, Conservatória é o berço da seresta. O que você achou que ouviria aqui?
Preferiu
ficar calado, não queria brigar.
Quando
já estavam um pouco altos, foram para a pousada. Dalila estava feliz consigo
mesma, achara algo agradável para fazerem juntos.
O
café da manhã era repleto de delícias: bolos, geleias, queijos e frutas.
O check out só seria feito no final da
tarde, tiveram tempo de finalmente ir à cachoeira que ela tanto queria. Mas a
água estava fria demais, não se molharam, apenas observaram a grandiosidade da
natureza. Em momentos como esse, Dalila acabava deixando fluir o pensamento,
ficava divagando em meio as suas lembranças, lembrando do passado, querendo
conhecer o futuro. Parecia uma excelente ideia ficar parada ali, apenas
admirando a paisagem, mas Wagner estava chamando por ela... ele estava falando
alguma coisa, mas não conseguia entender o que era.
___
Nossa, estou te chamando a um tempão. Temos que ir!
Não
se podia dizer que a viagem não fora boa, apenas poderia ter sido melhor
aproveitada.
Sempre
guardava na geladeira uma garrafa de vinho, aquela seria a companhia ideal para
aquela noite. Não bebeu muito, apenas o suficiente para se sentir atraída por
sua cama e ser embalada numa nuvem de sono.
No
dia seguinte, antes de ir trabalhar, recebeu outra mensagem, curta como a
anterior: “Quero te ver.” Mais uma vez, não respondeu.
Ela
não era ingênua o suficiente para acreditar que Leandro a amava, no fundo do
seu íntimo, sabia que tudo não passava de uma grande aventura para ele, o
amante a queria porque não poderia tê-la de verdade.
Manter
uma relação com dois homens ao mesmo tempo era arriscado, poderia perder os
dois, pior ainda, poderia perder o sonho de se casar com Wagner.
Instintivamente sabia que a vida ao lado de Leandro seria dura, e, como um
animal que busca um refúgio seguro para passar a noite, ela buscava um homem certo
para viver.
Ainda
na infância, ouvira um antigo provérbio: “Contra a força, não há resistência.”
Ela tentava lutar contra a frieza de Wagner, há dias ele não entrara em
contato, não ligou, nem sequer enviou uma mensagem; por outro lado, Leandro a
procurava, a queria, e ela não sabia como se sair da situação.
A
primeira semana após a viagem passou sem que Wagner ligasse para ela, todas as
ligações partiram de Dalila para ele. Não duravam muito, apenas contavam um
para o outro como estavam. Ele também não a convidou para ir a casa dele ou
disse que iria até ela. Diplomática, a jovem preferiu não forçá-lo.
Ligou
para a Lúcia e a chamou para irem ao clube pegar sol e conversar um pouco.
Sabia que o juiz havia ido a favor da amiga no divórcio, mas isso não impediu o
marido de dizer coisas horríveis para ela.
Leandro
não desistia, se tornou mais insistente e passou de mensagens a ligações, algo
em que também não obteve sucesso, pois suas chamadas eram sempre encaminhadas
para a caixa de mensagem.
A
segunda semana também não foi diferente da primeira, exceto pelo fato de Dalila
não procurar mais Wagner. Ambos já haviam vivido tudo aquilo antes, ele passava
por longos períodos de ausência e, quando discutiam, a resposta era a mesma:
“Eu não sei porque eu fico sem ligar. Mas eu sou assim, não estou fazendo nada
demais, estou em casa.”
O
pior era saber que ele não estava mentindo, se ligasse para a casa dele a
qualquer hora, o próprio atenderia.
Ansiosa,
acabou procurando-o, talvez estivesse com algum problema e não queria
preocupá-la... Sabia que essa era uma desculpa gasta, já a usara várias vezes
para desculpar a ausência do namorado, sabia que não deveria ser nada, mas
ignorou seu sexto sentido.
Wagner
disse que estava tudo bem, que não havia problema algum com ele. Uma pergunta
morreu em sua boca: “Por que não me ligou?”, por fim caiu como uma pedra em sua
fina estima.
___
Wagner, para mim já chega, você disse que as coisas iriam melhorar entre nós,
que coisas como essa não voltariam a acontecer! __ disse furiosa __ Eu
tentei de tudo... mas você não quer mudar!
Ela
estava frustrada.
___
Dalila, depois conversamos, está bem? Agora não é o momento.
___
Isso é típico de você! Não quero conversar depois e nem hora nenhuma!
Ela
desligou o telefone sem se despedir. Seu corpo inteiro tremia, estava pálida,
acabou buscando a porta do armário a fim de se apoiar.
Não
haveria consolo algum aquela noite que a faria dormir, queria companhia e sabia
a quem procurar.
Dessa
vez Leandro se surpreendeu, achava que o caso estava perdido, que Dalila
resolvera ficar em definitivo com o namorado, ela não respondera a nenhuma das
mensagens, nem retornara suas ligações. Ele havia pesquisado sobre seu
concorrente, sabia como ele era, onde trabalhava, onde morava e o que fazia nas
horas vagas. Como policial, não tivera dificuldade alguma em levantar esses
dados de Wagner.
Sagaz,
percebeu o sofrimento em seus olhos, se divertiu por uns segundos pensando no
que o outro teria feito para que estivesse assim. Isso o divertia porque sabia
o quanto ela estava vulnerável e, mesmo com a forte maquiagem usada, não havia
como deixar de perceber que várias lágrimas haviam sido vertidas por aqueles
lindos olhinhos.
Mentalmente
agradeceu ao seu concorrente, a sua imperícia em lidar com a própria
companheira.
___
Venha! __ disse seco.
Dalila
teria de aprender a não fugir.
Levou-a
dessa vez para a casa dele, esse era o toque doce naquele encontro, o restante
seria no mínimo um pouco ácido.
Não
bancou o cavalheiro oferecendo-lhe água ou qualquer outra coisa, também não
permitiu que ela observasse bem o ambiente, parte disso se devia ao fato de que
estava morrendo de vontade de possuí-la, a outra parte era simples, ele não
conseguiria manter a máscara por muito tempo. Ela encontraria o que estava
procurando. Ali a vida da jovem começaria a mudar.
Na
cama, pondo todo o peso do seu corpo para deixá-la imobilizada ele perguntou:
___ Por
que não respondeu as minhas mensagens?
___
Eu não ... podia. __ gaguejou __ Eu estava com o meu namorado, nós viaja...
Foi
surpreendida por um beijo violento, ele mordeu seu lábio inferior.
___
Não quero saber o que vocês estavam fazendo, nem onde estavam.
Em
seguida ele literalmente rasgou sua blusa.
___
Leandro, para com isso! Você está me machucando.
Ainda
com a mão no que sobrou de sua blusa, ele parou e a olhou com olhos meigos.
___
Desculpa, eu não pretendia.
Ela
sorriu, mas algo no olhar dele mudou.
___
Se quiser pode ir embora. Vai, pode ir. __ suas palavras foram acompanhadas de
um gesto de despedida e afastou-se dela.
___
Espera, também não é assim... Eu... eu só... não esperava.
Com
mil sorrisos por dentro, ele retornou a carga total: sugou-lhe os seios, abriu
caminho entre seus lábios receosos, acabou fazendo com que ela entrasse no
jogo. Dalila aprenderia pela força, um dia estaria pronta para não lutar, para
se entregar totalmente.
Ela
estava perdida, parecia não haver saída naquele labirinto que criara para si mesma,
todos os caminhos aparentavam não levar a lugar algum, resolveu resignar-se.
Acalmou o corpo da maneira que pôde, disse-lhe que não se tratava de uma
violência, era apenas uma maneira diferente de alimentá-lo.
Por
instantes ela percebeu que Leandro estava irritado, quase com raiva, a calcinha
não cedeu à brutalidade dele, esgarçou, cravou-se na pele, mas não rasgou.
Aquilo pareceu deixá-lo confuso, algo o detivera. Mas os instantes de hesitação
foram muito breves, novamente ele era senhor de si, nada se colocaria entre ele
e sua presa.
Tirou
o obstáculo do caminho com maior rapidez possível.
“Ah,
eu te quero... ah... preciso de você!...” pensou Leandro.
Ao
penetrá-la, pareceu esquecer-se completamente de que era ela, Dalila, quem
estava ali, como da primeira vez em que estiveram juntos, ele parecia mais uma
máquina potente e menos um amante. Incrivelmente chegaram ao clímax juntos.
Estavam exaustos, sem
vontade de conversar. Em silêncio, Dalila vestiu o que sobrou de suas roupas,
mas a blusa de seda estava em farrapos, abriu o armário dele, pegou uma
camiseta.
Leandro
parecia ignorar que ela estava indo embora, não fez menção de impedir sua
saída.
Como
ele morava perto de uma das mais belas praias do Rio de Janeiro, não foi longa
a caminhada até lá, e, embora a lua já figurasse no céu, alguns casais
passeavam por ali, uns namoravam, outros apenas contemplavam aquele espetáculo
oferecido pelas estrelas brilhantes e a lua refletida no mar.
Pensou
em caminhar, mas não sabia bem para onde queria ir, deduziu que para onde quer
que fosse seus fantasmas a acompanhariam. Sentou de frente para o mar,
apreciando o quebrar das ondas na areia e o véu que formavam. Não soube
precisar quanto tempo ficara ali parada, mas sabia que já era tarde e rumou
para casa.
Sentiu
algo macio embaixo dos seus pés e quando olhou para baixo, viu que era um buquê
de rosas. Alguém o havia deixado em sua porta. Havia um cartão: “Saudade de
você!”. Logo abaixo estava a assinatura de Wagner.
Ainda
que a hora estivesse adiantada, eram quatro horas da manhã, mandou uma mensagem
para o celular dele agradecendo pelas rosas. Quando se preparava para dormir, o
telefone dela tocou.
___
Alô. __ disse com voz de sono.
___
Onde você estava? Esperei por duas horas!
___
Wagner, agora sou eu quem digo, esse não é o melhor momento.
___
Dalila, eu te fiz uma pergunta e quero saber a verdade: onde você estava?
___
Verdade? Que verdade? A de que você sempre me deixa sozinha? A de que você não
me ama?
___
São quatro e meia da manhã, estive na sua casa e você não estava, chegou agora.
Eu tenho o direito de saber onde minha namorada anda!
___
Namorada? Acho que não somos namorados há muito tempo! Há três semanas não nos
vemos.
Ele
ficou mudo do outro lado da linha.
___
Ah, agora não sabe o que dizer, não é?
___
O que eu sei é que você estava em algum lugar, e desconfio que não vou gostar
de saber a resposta de onde era.
Mesmo
a verdade sendo cruel, colocou tudo para fora.
___
Tem razão! __ respirou forte __ Estava com outro homem!
O
silêncio foi mais marcante e aterrador dessa vez.
___
Eu não tenho mais nada para falar com você, Dalila!
A
linha ficou muda, nenhum sinal de vida do outro lado. Não sobrara resquício do
que haviam sido um dia. Duas pessoas que estavam se conhecendo, duas pessoas
que a sua maneira tentaram fazer dar certo o que supunham ser uma união, duas
pessoas carentes, mas que não tinham carência um do outro.
Ela
perdera completamente o sono, mas não sentia ânimo para levantar da cama e foi
ali, acamada, que Lúcia a encontrou, devido a sua ausência por três dias no
trabalho. Depois de muito bater na porta, se deu conta de que ela estava
aberta, chamou pela dona da casa e não obteve resposta.
A
amiga percebeu que algo não ia bem com Dalila,
a moça estava com o rosto abatido e a camisola parecia estar ensopada de
suor. Quando tocou em sua testa, sentiu que a temperatura estava muito acima do
normal.
Sendo
uma mulher de atitude, tratou de levantar o corpo frágil de Dalila e levá-la
até o chuveiro, cuidaria primeiro da menina, depois perguntaria o que estava
acontecendo.
Com
roupas limpas e uma comidinha improvisada na sua frente, Lúcia fizera uma
revista na geladeira, era a hora de Dalila contar o que acontecera. Mas não
teve coragem de falar tudo, resumiu a história ao término do namoro, argumentou
que deveria ter tido um esgotamento nervoso, e Deus era prova de que havia sido
isso mesmo. A pressão sofrida pelo relacionamento duplo, a dor que com certeza
havia causado em Wagner e a estranha relação que tivera com Leandro, a levaram
a tudo isso.
Lúcia
foi extremamente discreta, usou palavras de incentivo, mas não se aprofundou no
ocorrido. Dois dias depois, Dalila voltou ao trabalho.
“Cinco
dias com um problema de saúde no meio e Leandro não fez nenhum contato.”
Pensou.
Como
se captasse sua observação, ela recebeu uma mensagem: “Passei uns dias fora.
Vamos nos ver hoje?”
Respondeu
dizendo que estivera doente e ainda não estava completamente recuperada, ele estimou
suas melhoras.
“Até
que ele é educado.” Concluiu.
Dalila
conversou com o chefe de seu setor, lembrou-o de que não havia tirado férias
ainda e pediu um afastamento por pelo menos quinze dias e, como era uma
excelente funcionária, ele concordou sem fazer perguntas.
Despediu-se
dos colegas e pôs-se a escolher o lugar para onde iria. Sempre ouvira falar de
Gramado, no sul do país, ficou com vontade de conhecer. Pesquisou um pouco e
encontrou um hotel simples e com um precinho bem razoável. Aliado a isso, o mês
não poderia ser melhor, março é considerado um período de baixa temporada com
relação ao turismo, os preços das passagens aéreas também diminuíam nessa época
do ano.
Uma semana talvez fosse
pouco, mas seria bom estar sozinha, descansar, dar um pouco de paz para sua
alma tão perturbada.
Um dia antes de viajar,
Lúcia foi a sua casa, levando-lhe um presente. Um cordão de prata com um
pingente no mínimo inusitado: uma cobra, de aproximadamente três centímetros,
adornada com marcassita.
___ Não faça essa carinha
de assustada. A serpente tem vários significados, sabia? Para os Maias, o
descamar da pele faz dela um símbolo de renascimento e renovação, a víbora
também aparece na mitologia nórdica como símbolo de renovação, além de
representar o cosmos, a totalidade e a energia cíclica.
Dalila estava emocionada.
___ Pensei no que você me
contou... sofri muito durante a minha separação, mas... de alguma maneira... eu
consegui superar. Quero o mesmo para
você.
Dalila envolveu a amiga em
seus braços em um agradecimento mudo, mas bastante emblemático.
Viajou
no dia seguinte bem cedinho, preferiu não contar para Leandro seu destino,
apenas olhou a casa, respirou fundo e foi embora.
Encontrou a cidade
deserta, isso lhe trouxe certa melancolia, mas sabia que seria assim, ainda
mais nessa época do ano. O cenário era belíssimo demais para que quisesse
compartilhá-lo com outras pessoas, queria aquelas praças e ruas todas só para
si.
Pensou um pouco em Wagner,
no que ele estaria fazendo aquela hora, mas não era justo pensar nele, não
depois de tudo o que fizera. Pensou em Leandro também, bloqueara todas as
chamadas dele e o recebimento de mensagens. Ele poderia até achar isso injusto,
mas ela não pensava assim.
“Às vezes é difícil se
encontrar quando nos perdemos dentro do outro.” Pensou. “No meu caso eu
literalmente me perdi dentro de outros.”
Havia amargura em seu
coração e estava ciente disso, mas não era hora de entrar em contato com sua
dor.
Longe do calor do Rio de
Janeiro, se deliciou com o friozinho gostoso que fazia à noite; só poderia
estar sonhando. Embora não estivesse a procura de agitação, a vida noturna
parecia ser bastante animada, pessoas de todas as idades ocupavam os bares e
restaurantes, da região.
“Isso me lembra um pouco o
Rio.”
Os gritos de duas crianças
chamaram a sua atenção, elas brincavam em frente a Igreja Matriz São Pedro
Apóstolo, uma belíssima construção que datava originalmente de 1917. Ao longo
do caminho que levava à igreja havia estátuas dos doze apóstolos de Jesus, iluminadas
com luzes artificiais.
“Lindo, lindo, lindo!”
Como boa turista que era,
mais o fato de estar sozinha e ser senhora de seus passeios, Dalila caminhou
pela cidade, de manhã à noite até se cansar.
No dia do embarque,
aproveitou para dar uma última caminhada; voltaria assim que possível, disse a
si mesma.
Não
havia ninguém esperando por ela no aeroporto, os pais haviam falecido há muito
tempo, não tinha irmã ou irmão, era ela e somente ela. Sentia muita falta desse laço com o mundo.
Já em casa, resolveu não desfazer a
mala, deixaria isso para depois, pensava em pedir algo para comer, quando a
campainha tocou. Acreditando que fosse Lúcia, que sabia a data e a hora de sua
chegada, abriu a porta dizendo que estava muito feliz por vê-la, mas a visita
era outra pessoa.
___ Wagner.
Ele a olhou. Ela estava linda, com uma
ótima aparência.
___ Eu mesmo. __ tentou sorrir.
Dalila o convidou para entrar. Ele
sentou no sofá e fingiu não ver a mala na sala. Sabia que ela havia viajado,
conseguiu a informação com Lúcia.
___ Você... você está linda.
Aquilo
a surpreendeu.
___
Obrigada.
Ela
estava ansiosa, não fazia ideia do que ele queria falar, mas pelo menos não
parecia disposto a brigar.
___
Eu sou um homem infeliz, Dalila. Não sei lidar com as pessoas que gostam de
mim, acabo fazendo tudo errado.
Falar
sobre os seus sentimentos era algo dificílimo para ele. Wagner havia tido uma
infância pobre, fora criado pela avó, no sertão da Bahia, aos vinte e um anos
não havia terminado os estudos, trabalhara na roça para ajudar nas finanças da
casa. A mãe havia se casado novamente e tivera um outro filho, Roberto.
Quando
chegou ao Rio, sentiu que não havia lugar para ele. Tratou de estudar e
trabalhar ao mesmo tempo, progrediu na empresa. Aos quarenta e dois anos, tinha
uma bonita casa e um carro. Mas as marcas do passado fizeram dele um homem
seco, como o sertão de onde viera.
___ Eu
sei o que pode ter acontecido com você. __ continuou __ A carência faz muitas
coisas. Acredito que pode ter sido isso que a fez se aproximar desse cara,
desse homem com quem você se envolveu.
___
Olha, Wagner, você me desculpa, mas eu não quero conversar sobre nada disso.
Sei que deve ser difícil para você vir aqui e falar todas essas coisas para
mim, mas acho que nós não temos mais futuro, muita coisa aconteceu...
___
Dalila, se eu fosse você não me precipitaria assim, as coisas podem mudar...
___
Não... as coisas não vão mudar entre nós.
___
Tudo bem. Se cuida.
Tocou-a
de leve no braço e se foi.
“Nem
sempre o bem vem acompanhado de felicidade.”
Leandro
sempre fora um homem arrojado, não aceitaria uma recusa de quem quer que fosse.
Foi a casa dela e encontrou tudo fechado, esperou por mais de uma hora que ela
voltasse, quando viu que isso não aconteceria, invadiu a casa pela cozinha,
forçou a porta um pouco e ela abriu, a fechadura não era muito boa, era só
bater que trancava por fora.
Foi
direto para o quarto, as roupas ainda estavam no armário, embora alguns cabides
estivessem jogados na cama. Inteligente, deduziu que ela deveria ter viajado
para algum lugar.
Agora
ali estava ele, de frente para a casa dela, vendo Wagner ir embora de cabeça
baixa.
“Ele
é um perdedor!”, pensou impiedoso.
Daria
um tempo para Dalila. Todas as suas chamadas foram encaminhadas para a caixa de
mensagem, ela não queria vê-lo e, pelo visto, também não queria ficar com
aquele sujeitinho.
“Deve
estar cheia de coragem, achando que é livre.”
Um
plano começava a se formar em sua cabeça, um que faria Dalila ser sua para
sempre. Foi embora contente consigo mesmo.
Estranhou
o fato de Leandro não procurar mais por ela, chegou até a pensar em ligar para
ele, mas isso seria errado, talvez fosse a mão do destino agindo em sua vida,
poderia ser um sinal de que tudo deveria acabar ali. Mas o destino não tinha
nada a ver com o que estava acontecendo.
Ele
a procurou, foi a casa dela.
___ Oi.
__ sorriu encantador __ Desculpe aparecer sem avisar, mas liguei para você
várias vezes e as chamadas eram encaminhadas direto para a caixa postal.
___
Leandro, foi bom você ter vindo. Precisamos conversar...
Ele
a interrompeu:
___
Minha experiência me diz que quando as mulheres dizem isso, geralmente as
notícias não são boas. __ disse, cheio de charme __ Que tal conversarmos
durante o jantar? Preparei umas coisinhas especiais para nós, nada demais.
___
Eu não sei...
___
Vá se arrumar. Vou me comportar, prometo não encostar em você.
___
Já que você está aqui... posso falar agora mesmo.
___
Assim não. Prefiro que seja especial.
Com
isso, Leandro deu a entender que sabia dos planos dela, mas queria uma
despedida a altura do que viveram. Dalila achou que não havia problema algum em
aceitar o convite.
Pediu
que ele a esperasse na sala enquanto se preparava para sair.
Ao
chegar ao apartamento de Leandro e ver aquela linda mesa posta, sequer reparou
nos movimentos dele: a porta da entrada não fora trancada, a que dava para a
varanda, que vivia fechada, estava aberta, corria uma brisa leve e suave, um
cheiro de maresia.
___
Nossa, Leandro, você se superou!
___
Aceita um vinho?
___
Obrigada.
Ainda
deslumbrada com o clima do ambiente, não observou que ele mesmo não se serviu
da bebida.
___
Selecionei umas músicas que eu sei que você gosta. Vou colocar.
___
Leandro... você assim tão romântico, não sei não... Vou acabar achando que você
está querendo me desviar do assunto que temos a tratar.
Ele
sorriu misterioso.
___
Relaxa, eu... eu sei o que você quer falar comigo, eu só quero que seja mais
fácil de lidar com tudo isso quando você for embora.
Ela
foi para a varanda, segurou na grade de proteção e mirou o céu estrelado.
Displicentemente ele se aproximou dela por trás, não a tocou, mas fez com que
Dalila sentisse sua presença.
___
Sua taça está vazia, posso encher?
___
Acho que não é uma boa ideia, já tem um tempo que eu não bebo...
___
Não se preocupe, não vou te embebedar.
Rápido,
a garrafa já estava em sua mão, ele tornou a servir a bebida.
___
Tenho certo medo de altura. __ disse ela __ Jamais moraria assim, no décimo
andar de um prédio.
___
Esse apartamento eu herdei da minha avó, não teria dinheiro para morar aqui em
Copacabana se não fosse assim. Mas a cobertura tem suas vantagens, não tem
olhos curiosos para espiar.
Leandro
acariciava o ombro dela, percebendo que não foi rejeitado, continuou pelas
costas. Dalila sentia que estava sendo tomada novamente pelo desejo. Embora
lembrasse vagamente de sua vontade de terminar tudo, era tarde demais para parar
o que estava sentindo.
Permitiu
que ele levantasse o seu vestido, que baixasse a calcinha, que a tocasse...
Lentamente
foram se abaixando, até que o chão fosse a cama que lhes faltava.
Ele
sabia que a porta estava se abrindo, já era hora. Dalila gemia em seus braços,
ora dizia que era a última vez, ora dizia para que ele continuasse. Leandro a
instigava:
___ Fala que é assim que você gosta! Fala!
___
É assim que eu gosto.
___
Sua safada... gostosa. Aquele seu namorado não era de nada.
___
Por favor, não pare.
___
Tá quase gozando, não é?
___
Estou sim... ai.
___
Ele não fazia assim com você!
Dessa
vez ela nem respondeu, apenas gemeu alto.
___
Tá cansadinha, tá?...
Suspirou
fundo, antes de abrir a boca.
___
Foi maravilhoso. __ disse ela.
Sentindo
o suor incomodando, o cabelo molhado, Dalila começou a se levantar, quando
finalmente viu quem havia chegado.
___
Wagner! __ gritou.
Os
três apenas se encaravam. Ela estava confusa e envergonhada, não conseguia
entender como o ex chegara ali, nem como conseguira entrar. Ela não sabia que o
porteiro já havia sido avisado da chegada de Wagner, Leandro autorizara a
subida dele e pedira para o empregado não interfonar para o apartamento.
Acostumado a receber os amigos do morador, Severino não questionou, apenas
obedeceu.
Premeditado,
Leandro ligara para Wagner contando detalhes do caso que tivera com Dalila.
Mordaz, resolveu lembrar um fato em particular:
___
Teve um dia que ela pediu para ir embora do shopping, lembra?
Wagner
não respondeu.
___
Vou refrescar a sua memória: ela disse que estava com dor de cabeça.
Wagner
lembrava bem daquele dia, tinham acabado de reatar o namoro.
___
Ela voltou para se encontrar comigo. __ mentiu __ Fui eu que dei o remédio que
ela precisava. Depois você ligou perguntando se ela estava melhor.
Wagner
apertava com tanta força o aparelho de telefone que seus dedos chegaram a
perder o sangue embaixo das unhas.
___ A
Dalila não passa de uma vagabundinha que eu pego a qualquer hora. __ continuou
provocando.
___
Não fala assim dela, seu merda!
___
Quer saber, vou te dar uma oportunidade de ver como ela é comigo. Vou te mandar
data, local e hora. Se quiser, vai lá ver, o show vai ser de graça.
Leandro
enviou a mensagem de seu próprio celular, queria que ficasse registrado o seu
número de telefone.
___ Gostou do que viu? Aprendeu alguma
coisa?
Dalila
começou a entender tudo aquilo. Cambaleou para a sala.
___
Seu desgraçado. Você é um idiota. __ a voz de Wagner saiu estrangulada.
___
Será? Mas foi comigo que ela teve um orgasmo. Alguma vez você a ouviu gemer
daquele jeito? Hum, pela sua cara, acho que não.
Wagner
partiu para cima do dono da casa, tentou acertar um soco nele, mas o outro
desviou e começou a rir bem alto.
Dalila
assistia a tudo horrorizada, estava perplexa com a maldade de Leandro.
“Ele
é um monstro!”, pensava a todo instante.
Quando
tornou a olhar a briga, o que viu a deixou em estado de choque. Em uma nova
tentativa frustrada de acertar seu alvo, Wagner perdeu o equilíbrio e bateu com
força na grade, nesse momento, Leandro o empurrou com força pelas costas.
Dalila
piscou várias vezes os olhos, achando que talvez tivesse imaginado tudo aquilo,
mas quando os abria, via apenas um homem naquela varanda.
Atônita
correu para a sacada. Wagner estava lá embaixo, na calçada e saía sangue de sua
cabeça, curiosos começavam a se juntar a volta dele.
___
Seu louco, olha o que você fez!
Leandro
a encarava friamente.
___
Ele não podia ficar entre nós.
Dalila
apertava freneticamente o botão do elevador, mas estava demorando demais,
resolveu ir pela escada, com Leandro em seu encalço.
Ele
jazia imóvel no chão. Leandro se aproximou e verificou os sinais vitais, em
seguida pegou o telefone e ligou para o Corpo de Bombeiros.
___
Alô. Por favor, mandem uma ambulância aqui para a rua Felipe Oliveira, esquina
com a Avenida Princesa Isabel. Meu nome é Leandro e meu amigo acabou de sofrer
um acidente, ele caiu do meu apartamento no décimo andar.
Apenas
algumas palavras penetraram no cérebro de Dalila: “amigo” e “acidente”.
“Desde
quando o Wagner é amigo de Leandro?”, pensou, “E isso não foi um acidente!”
Leandro
se identificou como sendo policial e pediu que as pessoas se afastassem.
___
Antes que você pense em falar qualquer coisa, ouça bem o que eu vou te dizer: ele
está morto.
Ela
tapou a boca com a mão para não gritar.
___
Nem pense em me acusar, porque eu vou dizer que vocês discutiram, você bebeu um
pouco a mais e empurrou ele. Sabia que mesmo uma mulher magrinha como você
pode fazer isso? Não precisa de muita força, é questão de jeito. Uma vez tivemos
um caso desse na delegacia, a esposa matou o marido para ficar com o amante. No
seu caso, você o matou porque acreditava que ele a estava perseguindo. Viemos
aqui para conversar, ele também, eu tentei mediar a situação de vocês, quando
tudo saiu do controle, vi quando você o empurrou. Tentei ajudar, mas era tarde
demais.
Ela se
sentia pequena, sozinha, desprotegida. Nunca imaginara que as coisas chegariam
onde chegaram. Wagner estava morto e a culpa era sua.
___ Tem outro pequeno detalhe... __ Leandro
fazia pausas em sua fala, queria que ela absorvesse o significado de cada
palavra __ Eu não consumi uma gota de álcool, estou limpo, e minhas digitais
não estão naquela varanda, só as suas e as dele. Minha faxineira é ótima, me
conhece desde moleque, ela veio ontem e fez questão de polir os vidros e a
barra de proteção da varanda. Entende o que isso significa? __ continuou
falando no ouvido dela __ Ou eu posso dizer que foi um acidente, que você não
teve nada a ver com isso. Vocês vieram jantar comigo... Esse vai ser o nosso
segredinho. Você me pertence!
Nesse
momento, Dalila soube que sua vida estava completamente arruinada... achou que
iria vomitar.
___ Vamos
esperar a poeira baixar, vou dar o meu depoimento e depois podemos voltar a nos
encontrar.
Leandro
a segurava, mas muito discretamente, não queria que as pessoas ficassem de olho
neles. Dalila se desvencilhou, deu um passo para trás e tratou de se afastar.
A
atitude dela não estava nos planos, teria que pensar rápido, porque já avistava
as luzes da ambulância e a polícia chegaria em breve. Diria que estava
esperando o amigo para jantar, foi pegar uns petiscos e não o viu cair da
varanda. Não o conhecia muito bem, não sabia se ele estava passando por algum
problema, ou se tinha tendências suicidas.
Dalila pagaria caro por
ter ido embora. Ele ainda poderia dizer que ela fora a culpada, que não a vira
entrar. O porteiro era muito devagar, sempre demorava para trancar a garagem
quando um morador entrava ou saía, havia um ponto cego ali, as câmeras estavam
mal posicionadas e ele sabia disso.
Ela
não chorou, não conseguia chorar, estava em estado de choque. Fez sinal para o
primeiro táxi que encontrou, pediu que o motorista a deixasse no Arpoador.
Tinha
uma verdadeira história de amor com aquela praia, estando alegre ou triste,
Dalila sempre ia para lá. Caminhou para uma parte específica da enorme pedra
que havia ali, aquele era o seu cantinho.
Lágrimas quentes desceram
pelo rosto dela, indo de encontro a dureza da pedra.
Talvez
a polícia já estivesse a sua procura, talvez...
___
Ele não vai conseguir me aprisionar, não..., ah, ele não vai... Eu sou mais
forte! __ falava consigo mesma enquanto se levantava, suas mãos tremiam, embora
não estivesse com medo __ Vou lutar, vou provar que sou inocente...
Suas
palavras eram acompanhadas de passos para frente. Dalila sabia que seria
impossível colocar em prática o que dizia para si mesma, Leandro a enredara em
uma teia de mentiras com linhas muito fortes. Mas ainda havia algo que poderia
fazer, havia um lugar onde poderia se abrigar, um lugar onde as garras de
Leandro não a alcançariam, tudo seria silêncio e paz.
Tirou
as delicadas sandálias que usava, sentiu a força da natureza embaixo de seus pés
e finalmente deixou que o vento acariciasse sua pele e a espuma das ondas lhe
fornecessem um manto.