sábado, 17 de maio de 2014

Memórias de outrem

Quem foi que disse que dias estressantes terminam mal? Bem, não sei...
         Sem que nenhuma de nós percebesse, o sol foi saindo de banda, mansinho, deixou que o azul tomasse conta do céu, até que finalmente ela aparecesse, a lua.
         Hoje foi assim que se passou a minha tarde, sem que nem eu nem minha vizinha percebêssemos que as horas estavam passando, nem nos demos conta de que o horário do lanche havia passado e o jantar estava por fazer. Ah, hoje a pizza dominará a mesa.
         Dona de uma conversa agradabilíssima, essa amável senhora discursou sobre os meandros da literatura com uma propriedade nata de escritores. Falou sobre sentimentos que um dia foram registrados a tinta em alguns papéis, perguntei avidamente sua localização, mas como alguém que sabe deixar apenas o leve sabor de quero mais, minha interlocutora alegou não saber exatamente onde estavam.
         Quantas avós e mães escreveram seus pensamentos e depois os deixaram de lado dizendo que se tratavam apenas de “bobagens dos tempos de moça”?
         São tantas que não dá para contabilizar. Essas mesmas mulheres veem suas netas e filhas lendo obras que em muitos casos não valem sequer a encadernação que têm.
Especulo que escritoras maravilhosas se perderam por aí, deixaram seu talento nas gavetas, abandonados em folhas soltas, em pequenos pedaços de papel... no escuro.
Não ouso buscar motivos que expliquem tais atitudes, seria pretenso demais da minha parte, mas o que fazer então com toda essa vontade de saber o que pensavam?
Beco sem saída? Não. Basta pedir que puxem pela memória, que dialoguem conosco, ou, como no caso da minha vizinha, que tente encontrar a página que ainda sobrou, esse pedaço de passado que foi passando de gaveta em gaveta, de armário em armário até chegar aos dias de hoje.

Não fiz isso sem deixar bem claro que lerei com carinho, com respeito, com olhos da alma, porque de alma para alma que escrevo e leio o que produzem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário