Mentes
empoeiradas
Eva nasceu da cor de chocolate, com olhos cor de mel; o
corpo curvilíneo era um convite ao prazer, mas o paizão, Raimundo, tomava conta
da filha de perto, não queria ninguém pousando no aeroporto da menina.
Ela não se importava nem um pouco com a possessividade
paterna, era tranquila, sensível, adorava ler e ir ao cinema. Com dezesseis
anos, já não era apenas uma promessa de beleza, era a própria Afrodite em
pessoa.
___ Raimundo, nossa filha já está grande, deixe-a namorar.
__ disse Pérola, a mãe.
___ Não sei, fico preocupado. E se alguém fizer mal a ela? E
se ela engravidar? Vai ser mais uma negra pobre, como tantas outras por aí,
ainda por cima com um filho nos braços.
___ Não confia na educação que lhe demos? Eva não é nenhuma
desavisada. Se prender, pode ser pior.
___ Vamos esperar mais um pouco.
A garota já mexia com os hormônios dos marmanjos da escola,
eles procuravam chamar a atenção dela sempre que podiam. Era sempre afável, mas
parecia um pouco distante, quase fria. Guilherme era o único com quem conversava
um pouco mais, achava-o simpático, um tanto tímido, mas muito inteligente.
Embora fosse muito parecido com os outros garotos da escola
pública em que estudava: brincalhão e irreverente, Guilherme sabia que a vida
no morro não era fácil, mesmo com várias favelas pacificadas. As UPP’s (Unidade
de Polícia Pacificadora) coibiam várias atividades ilícitas, mas não
conseguiram extingui-las completamente, o tráfico continuava existindo e
seduzindo muitos garotos iludidos com a aparente vida fácil e dinheiro rápido,
a única saída era estudar e mudar de vida.
Eva jamais se sentira atraída por homem algum, mas percebia
os comentários maliciosos da vizinhança dizendo que nunca tinha namorado
ninguém e que isso deveria ser sinal de algum distúrbio. Os pais não viam
problema no fato de ela nunca ter tido esse tipo de envolvimento, melhor assim,
a filha não era para qualquer um. Mas ela também se incomodava, sentia-se
estranha, diferente.
A jovem, que não vivia no mundo da lua, percebeu a paixão
que Guilherme nutria por ela, mas não sabia como lidar com a situação, além da
simpatia que tinha por ele, não conseguia sentir nada mais. No dia de sua festa
de 17 anos, o rapaz se declarou para ela, que aceitou o pedido de namoro dele.
Finalmente as pessoas não falariam mais de sua vida, teria um namorado!
Raimundo e Pérola não se opuseram ao namoro, conheciam os
pais de Guilherme e se davam bem com eles.
O primeiro beijo foi depois de partirem o bolo. Ele beijou-a
apaixonadamente, estava ansioso por sentir aquela boca, por tocar naquele
corpo, mas Eva não sentiu nada, ou se sentiu, foi apenas o contato da língua
dele na sua e a respiração acelerada do rapaz em seu pescoço.
A morena resolveu não dar importância a isso, o primeiro
beijo deve ser sempre assim, pensou.
Outros beijos vieram e um ano se passou.
___ Esse namoro ainda vai dar em casamento. __ anunciou,
feliz, Pérola.
___ Não sei, mãe, ainda quero viver outras experiências.
___ No que você faz muito bem, minha filha, não precisa ter
pressa de casar, vá estudar primeiro!
Mas, em seu íntimo, Pérola guardava a esperança de ver a
única filha casada e mãe de muitos filhos. Raimundo era pai de dois meninos do
primeiro casamento, mas menina, só a Eva.
A formatura do Ensino Médio fora muito bonita, com direito a
um discurso dos oradores da turma, o casal Eva e Guilherme. Para eles a batalha
estava apenas começando, mas para muitos pais ali presentes, que sequer
chegaram a completar o primeiro grau, era uma grande emoção.
Guilherme era a felicidade em pessoa, eles estavam estudando
desde o início do ano em um pré-vestibular comunitário, e prestariam o último
exame para a universidade na semana seguinte.
___ Eva, já estamos juntos há um ano e eu te conheço desde
que éramos crianças. Poxa, amor, não aguento mais! Você sabe como eu fico só de
chegar perto de você. Não é possível que não veja!
___ Essa conversa de novo, Guilherme!
___ Eva, qual é? Eu te amo!
Ela sabia que o momento estava próximo, mas resolveu ganhar
mais tempo.
___ Gui, vamos fazer o seguinte: deixe as provas passarem,
estamos na reta final do vestibular, não vamos perder o foco agora.
___ Você está certa, amor. Depois voltaremos a conversar.
Eva sabia que a trégua não demoraria muito tempo, mas ainda
assim, vencera uma pequena batalha.
Guilherme estava tentando uma vaga para Contabilidade,
sempre fora bom em matemática e estava estudando desde o início do ano passado,
quanto a Eva, tentaria Arquitetura no vestibular, havia terminado o curso de
desenho no início do ano anterior e alguns professores sugeriram que ela
tentasse para essa área, pois perceberam o talento da jovem.
Ela sabia que não faria apenas provas convencionais, também
enfrentaria uma prova específica, algo que no início quase fizera com que ela
desistisse do curso, mas os pais, orgulhosos dos desenhos dela,
incentivaram-na.
Mais uma vez, Eva e Guilherme saíram vitoriosos das batalhas
que enfrentaram, ambos passaram para os cursos desejados. Inscrições feitas nas
respectivas universidades, era a hora de comemorar, mas a dois.
___ Eva, olha... eu... não sei como falar... __ disse
Guilherme.
___ Tudo bem, já sei o que é. __ respondeu Eva, séria.
___ Nossa, você falando assim, eu fico até sem jeito.
___ Tudo bem, não precisa ficar assim, mas, tem uma coisa
que eu quero que você faça.
___ Pode falar.
___ Guilherme, eu vou direto ao assunto. __ respirou fundo e
disse___ Quero que você use preservativo.
___ Não vejo problema nenhum nisso. Acho que você está
certíssima.
Depois de alguns dias, eles saíram. Eva estava razoavelmente
tranquila, já o namorado estava bastante tenso, tinha um medo enorme de falhar.
O quarto escolhido era simples, não havia muito o que olhar.
O único objeto que chamou atenção de Eva foi um quadro de uma mulher nua, de
costas. A moça de repente ficou imaginando se aquela mulher realmente posara
para o pintor ou se era apenas uma imagem que ele tinha na cabeça? Se ela
existia de verdade, como era então seu rosto?
Guilherme, interpretando o silêncio dela como nervosismo,
puxou conversa, falaram sobre como havia sido o dia, o clima e outros assuntos
banais. Finalmente ele beijou-a e começou a tirar as roupas deles. Eva
continuava calma, mas sentia que algo não ia bem, seu corpo não respondia.
Consciencioso, ele não se esqueceu da promessa feita e
colocou o preservativo. Sabia que ela sentiria um pouco de dor, mas se
esforçaria para que fosse o mínimo possível.
___ Ai, tá doendo!
___ Desculpa, amor, é assim mesmo. Quer que eu pare?
___ Não.
O rapaz sentiu quando o hímen se rompeu, sabia que a região
íntima dela estava dolorida, não quis seguir em frente até alcançar o próprio orgasmo,
porque isso causaria mais dor ainda a ela.
O sangue entre as pernas não a assustou, o que a constrangeu
foi olhar o namorado. Embora estivessem nus, ela não o admirava, não achava
nada nele bonito. Ele ainda estava excitado e ela nem se lubrificara.
Daquele dia em diante, Guilherme pensava em Eva como sua
noiva, sua futura mulher, de mais ninguém.
As noites que passavam juntos não chegavam a ser um suplício
para Eva, mas não eram prazerosas, o namorado percebia isso, mas não encontrava
maneira de tocar no assunto com ela. Para ele, era como se sua própria
masculinidade estivesse em jogo, como se o fato de ela dizer que ainda não
tivera um orgasmo, significasse que ele era um fracassado.
Ainda no primeiro período da faculdade, Eva revelou ser tão
popular quanto na escola, todos se encantaram com a morena do morro.
Ela defendia a ideia de que grandes áreas das comunidades
ou, estruturas mistas, como chamavam alguns arquitetos, não precisavam ser
colocadas abaixo a fim de se fazer novas áreas, o problema maior não era a má
qualidade das construções e sim a grande densidade populacional. Segundo ela, a
arquitetura tinha um papel social a ser exercido, e isso abrangia acolher os
desejos das famílias que moravam naquele ambiente.
Eva se identificou muito com Taís, colega de curso, moça
concentrada e estudiosa. A amizade entre as duas era muito sincera.
Aos poucos o namoro de Eva com Guilherme foi se desgastando,
o rapaz descobriu que ela tomava anticoncepcional escondido dele. Indignado,
exigiu explicações, queria saber o motivo de tal atitude.
___ Eu não quero correr o risco de ter filhos antes da hora!
__ disse Eva.
___ Mas nós não teríamos filhos antes da hora! __ berrou ele
__ Nós usamos preservativo! Esqueceu? Dificilmente isso poderia acontecer.
___ Ainda assim, eu não quero correr risco nenhum.
___ Agora estou entendendo tudo! Você não quis foi correr o
risco de ter uma ligação duradoura comigo! Você tem outro! Eu sei!
___ Eu não tenho ninguém!
___ Tem, sim! Traidora! Nunca se entregou para mim de
verdade, nunca sequer tentou disfarçar a frieza na cama!
___ Chega! __ gritou Eva __Chega! Acabou, Guilherme, acabou!
Guilherme foi embora com lágrimas nos olhos, mas algo na
atitude de Eva indicava que o rompimento era definitivo.
Os pais da moça tentaram de todas as maneiras fazer com que
ela se reconciliasse com o namorado, mas Eva foi firme, estava tudo acabado e
ponto final.
Thaís ouviu a história toda em silêncio, achava que a amiga
era tão feliz quanto ela, Thaís, era com Rafael. Se bem que Eva pouco falava
sobre si. A amiga não se conteve, abraçou Eva com carinho.
Eva sentiu algo estranho dentro de si, queria prolongar
aquele abraço, sentir mais ainda o cheiro dos cabelos de Thaís, da pele da
moça, do gosto que ela deveria ter.
Assustada, Eva se desvencilhou bruscamente do abraço, mas o
incômodo aumentou ainda mais quando ela olhou para a boca de Thaís. Os lábios
da jovem eram finos, rosados e pareciam ser doces, macios. A volúpia tomou
conta de Eva, de repente seu corpo parecia ter sido tomado por uma força
totalmente diferente, a vontade era uma só: beijar Thaís e não parar mais.
___ Olha, Thaís, obrigada, mas eu preciso ir.
___ Qualquer coisa me liga.
Confusa, Eva preferiu fugir, não tinha certeza do que estava
acontecendo. Sempre estivera acostumada a sentir o desejo dos homens por ela,
escolhera Guilherme por ser ele um grande amigo, mas não sabia como lidar com o
seu próprio desejo, ainda mais por ser ele por uma mulher.
Passou o final de semana todo pensando no que lhe
acontecera, os pais perceberam que ela estava calada, mas sabiam do término do
namoro com Guilherme e associaram isso a sua mudez.
Na segunda-feira, ela foi à aula normalmente, encontrou
Thaís, mas preferiu ficar um pouco mais distante, procedeu assim a semana toda.
A amiga, que não era boba, percebeu e a chamou para conversar.
___ Eva, o que está havendo? Você está tão estranha.
___ Não é nada, só estou um pouco atrapalhada com as
matérias.
___ Isso não justifica o fato de você não mais se sentar
perto de mim. Ou você acha que eu não percebi?
___ Ai, amiga, desculpe, por favor, me desculpe. Eu sou
estranha mesmo.
___ Não vai me contar, não é?
___ Asseguro-te que não é nada demais.
A jovem estava infeliz, finalmente estava entendendo um
pouco do que se passava com ela: nunca tivera um orgasmo, nunca se sentira
excitada com Guilherme, nenhuma parte do seu corpo correspondia as carícias
dele, achava o beijo extremamente mecânico.
___ Não pode ser!
___ O que foi, filha? O que não pode ser?
Ainda no que se pode chamar de estado de choque, Eva não
conseguiu responder a pergunta da mãe.
Um tumulto enorme formava uma tempestade dentro dela. Dor,
mágoa, medo, desespero, tudo misturado e se movendo rapidamente em uma sucessão
psicodélica de sentimentos.
Aquele foi o pior período dela na faculdade, as notas
diminuíram muito, o sorriso fácil sumiu, as palavras foram economizadas tanto
com os amigos, quanto com a família.
Eliane, professora de Projeto de Arquitetura Dois, percebeu
a mudança radical em Eva, queria conversar com ela, saber o que estava havendo,
mas não sabia como se aproximar. Até que o destino se incumbiu de resolver esse
impasse.
A professora viu a moça encolhida num canto distante do campus
e viu que ela estava chorando. Foi chegando devagar, para não assustá-la,
sentou-se ao seu lado e ficou em silêncio, até que Eva percebesse sua presença.
Passado algum tempo, pousou a mão em suas costas, o choro foi cessando devagar.
___ Eliane, desculpe.
___ Está se desculpando por quê? O que acha que fez de
errado?
___ Nasci.
___ É uma maneira estranha de definir um problema.
___ Eu não quero falar sobre isso.
___ Mas o seu corpo quer, ele está pedindo ajuda. Você
estava chorando, eu vi, e estou aqui para te ajudar.
___ Acho que ninguém pode me ajudar, só nascendo de novo.
___ Como essa é uma coisa que você não pode fazer, então que
tal me contar o que está havendo para eu ver se posso te ajudar? E, por favor,
nada de dizer que ninguém pode fazer isso, vamos pular essa parte.
Eva acabou sorrindo, o primeiro sorriso em dias, já não
suportava mais o peso do segredo dentro dela, queria se abrir com alguém. Iria
se arriscar.
___ Eliane, eu sempre me senti um pouco deslocada, estranha
mesmo. Os rapazes da minha escola sempre caíam de amores por mim, mas eu nunca
gostei de nenhum deles, mas resolvi que estava na hora de namorar alguém, as
pessoas já achavam estranho que eu nunca tivesse namorado, isso não é muito
comum. Onde eu moro, as meninas começam a se relacionar com os garotos muito
cedo, tem uma vizinha minha que começou a namorar com treze anos... escolhi o
Guilherme, que era meu amigo de infância, meus pais conheciam, enfim, uma
pessoa bacana. Começamos a namorar no dia do meu aniversário, ele sempre foi
muito delicado comigo, inclusive na nossa primeira transa, mas eu nunca senti
desejo nenhum por ele, nunca senti prazer em ir para a cama com ele. Não vou
fazer a linha de moça ingênua e fingir que não percebi, mas fingi que não era
real, que uma hora iria mudar tudo isso, que eu seria normal.
Eliane preferiu não interromper a moça, que parecia tão
aflita, mas começou a perceber qual era o “problema” dela.
Chorando novamente, Eva prosseguiu com a narrativa.
___ Não tenho explicação plausível para o que eu fiz, mas...
fui a um ginecologista e pedi que ele me receitasse um anticoncepcional, mesmo
eu e o meu ex sempre usando preservativo, não quis correr o risco de
engravidar. O Guilherme descobriu e ficou furioso comigo, terminamos. Uma amiga
minha acabou sabendo de tudo e me chamou para conversar. Eliane, quando ela me
abraçou, eu senti muitas coisas, fiquei... __ ela se interrompeu.
___ Eva __ era um momento delicado, Eliane teria de manter a
calma a fim de não perder a jovem __ Eva, por favor, continue, eu estou
entendendo onde você vai chegar. Não pare agora.
___ Eliane, eu fiquei excitada, foi incrível. Não toquei em
parte nenhuma do corpo dela, foi ela quem me abraçou, mas eu senti um calor
incontrolável, uma vontade de beijá-la, de tocar nos cabelos dela, de ..., de
ver como deveriam ser os seios dela, a barriga, de tocar todos os centímetros
daquela pele. Ai meu Deus, quase estraguei a minha amizade! Imagine o que ela
iria pensar! Não quero ser assim, não pode ser verdade, eu não sou isso!
___ O que é ser “isso” __ Eliane enfatizou essa palavra__
para você?
___ É ser errada, diferente... Não, Eliane, não pode ser...
eu não sou...
___ Você não é...
___ Eu não sou lésbica! __ a palavra saiu como uma explosão,
doída, arranhando todas as entranhas de Eva para sair.
Eliane ficou penalizada pela moça, não por sua sexualidade,
mas pelo seu preconceito, pela dor que aquilo ainda iria causar a ela.
___ Eva, calma, ser homossexual não é o fim do mundo.
___ Eliane, você não entende. Sou a única filha mulher do
meu pai e filha única da minha mãe. Jamais vou ter filhos, não vou casar com um
homem, não vou ser nada do que eles esperam. Eu não sou nada!
___ Como você se culpa, Eva! Quem te disse que você não
poderá ter filhos? Que conversa é essa de não ser nada. Quer dizer que você
acha mesmo que ser lésbica ou gay é não ser nada? Deixamos de ser
seres humanos então?
Sem perceber, Eliane se entregou. Ela não escondia sua
homossexualidade, mantinha um casamento de onze anos com uma mulher, todos na
universidade sabiam disso, mas não costumava falar isso para os alunos, não
queria despertar a curiosidade deles, sabia que tanto homens como mulheres
tinham imagens distorcidas do lesbianismo.
Eliane continuou, quase que com fúria:
___ Deixamos de ser filhas, de ser mulheres, de ser
trabalhadoras? Não, Eva! Continuamos sendo tudo isso! Muitas mulheres são
estereotipadas, estão tão acostumadas a ideia de que lésbica ou “sapatão”, como
dizem por aí, têm que ser machonas, ter comportamentos masculinos, como se pelo
fato de gostarem de mulher significa que queriam ter nascido homens. Eva, isso
não é verdade, essas criaturas ficam se autocaricaturando. Você, minha querida
__ Eliane resolveu abrandar o seu discurso__ e eu também, foi educada para
corresponder a um papel feminino, para me relacionar afetiva e sexualmente, com
o sexo oposto. Isso não quer dizer que nossos pais estão errados, eles fizeram
o que achavam certo, mas cabe a nós seguir nossa vida, nossos impulsos... sermos
felizes!
___ Mas, Eliane, e se isso foi só com o Guilherme, talvez se
eu me relacionar com outro rapaz, vai passar. Talvez eu consiga que as coisas
sejam diferentes.
Eliane percebeu como Eva estava perdida.
___ Você até pode tentar, é um direito seu, mas você estará
se enganando. Eva, a atração que você sentiu foi real, tanto que você mesma
admitiu que nunca se sentiu atraída por nenhum rapaz da sua escola. Diga-me:
quantos homens passaram pela sua vida? Quantos garotos foram na sua casa te
chamar para brincar? Quantos garotos te chamaram para sair e você recusou? O
seu ex, Guilherme, não é? O seu próprio
ex foi escolhido porque você se sentiu coagida a ter um namorado, por uma
exigência sua. E aposto que só o escolheu porque sabia da enorme paixão que ele
deveria nutrir por você, porque sabia que ele suportaria muita coisa calado,
que ele te cobraria pouco, que ele não exigiria muito de você. Pare de se
enganar, de uma vez por todas!
Eva, mais uma vez, teve sentimentos contraditórios, ficou
feliz por saber que alguém próxima a ela sentia as mesmas coisas, mas ficou
triste de constatar a veracidade do que ela estava falando.
Eliane intuiu o que ela estava pensando e disse:
___ Coragem, menina, coragem. Há muitas leituras que você
pode fazer sobre o assunto. Tenho um livro muito especial que você deve dar uma
olhada. Passe na minha sala quando puder, não canso de ler e reler algumas
passagens. Emprestarei com prazer.
___ Obrigada, Eliane, passarei lá. Vou pensar em tudo o que
você me disse.
___ Pense, te fará muito bem. Agora eu tenho que ir, mas...
acho que foi muito bom para nós duas essa conversa. Você não está sozinha, não
estará nunca.
Eliane abraçou-a rapidamente e se foi, sabia o quanto ela
ainda teria que percorrer para se aceitar, não queria que ela confundisse as
coisas.
A hora era aquela, hora de levantar a cabeça e ir em frente,
retomar os estudos e deixar o tempo passar. E assim foi.
Para comemorar o final do segundo período da faculdade, o
pessoal da turma resolveu se reunir em uma danceteria, na zona sul da cidade.
Eva adorou o lugar, nunca havia ido a um lugar daquele.
O espaço era fantástico, cheio de cores e um som bem alto,
quase não se ouvia o que o outro estava falando. Eva se deixou levar pela
música e dançou. Estava animada, conseguira melhorar seu rendimento na
faculdade, tinha que comemorar em dobro.
Um rapaz se aproximou dela e perguntou qual
era o seu nome, ela respondeu, ao que prontamente ele fez uma brincadeira.
Inebriada pelo momento, ela sorriu. Rapidamente ele a puxou para si e tentou
beijá-la a força. Eva resistiu e gritou com ele, mas a música alta abafou as
vozes alteradas. Ao que tudo indicava o homem estava bêbado e não entendia a
recusa dela. A situação estava piorando quando alguém a segurou e falou em seu
ouvido.
___ Fique tranquila, vou te tirar daqui, esse cara está
bêbado.
Eva se deixou conduzir por aquela voz, não sabia quem era,
mas percebeu que estavam se dirigindo para a saída. Com a respiração ainda ofegante,
ela virou-se a fim de agradecer a pessoa que a ajudara.
___ Oi.__ disse Eva ao se deparar com uma moça um pouco mais
velha do que ela, dona de um rosto sonhador e bonito __ Muito obrigada. Você me
salvou.
___ Não precisa agradecer. Vi que aquele ridículo estava
bêbado e queria arrumar encrenca. Meu nome é Dayane.
___ Meu nome é Eva.
___ Você ainda quer ficar aqui? Eu já estava de saída.
___ Quero ir embora também, mas vou dar tchau para os meus
amigos.
Dayane foi com Eva, ela acenou para os que estavam mais
próximos e foi embora. Já do lado de fora, suas pernas tremeram tanto que
Dayane teve de ampará-la.
___ Dayane, mais uma vez obrigada. Não sei o que houve.
___ Eu sei, Eva. Vamos, meu carro está bem próximo daqui.
Dayane levou-a a uma lanchonete que ficava aberta vinte e
quatro horas, próxima dali.
___ Você precisa comer alguma coisa. __ disse Dayane __ e
nem adianta recusar. Aqui eles têm uns sucos maravilhosos.
Feitos os pedidos, Dayane e Eva começaram a conversar,
falaram sobre a danceteria e o que havia acontecido por lá. Eva soube que a recém-amiga
era médica, trabalhava na clínica do pai.
___ Bom, Dayane, está tarde e eu já vou indo.
___ Eu te deixo em casa.
Eva não queria abusar da gentileza da amiga, mas aceitou a
oferta deu seu endereço e foram conversando. Trocaram telefones e ficaram de se
falar no dia seguinte.
Foi Eva quem ligou primeiro. Marcaram de se encontrar na
praia no final da tarde, para passearem
na orla.
Ao chegarem ao Arpoador, Dayane sugeriu que sentassem na
pedra a fim de ver o pôr do sol. Em silêncio, viram o céu mudar de cor. O clima
entre as duas era de profunda intimidade, como se já soubessem de algo que
tinham em comum, mesmo sem terem dito nada. As mãos se aproximaram, se tocaram
tímidas, mas cheias de vontade de perdurar o contato. Não havia quase ninguém
por ali, não haviam olhos indiscretos que pudessem constatar aquele momento
único na vida de ambas: o beijo que trocaram.
Os olhos de Eva estavam marejados de lágrimas, a boca estava
seca e a garganta fechada, não conseguiu dizer nada, o silêncio foi preenchido
por novos beijos, por novas carícias, por secretas promessas.
Dayane deixou Eva em casa. Elas passaram a se falar
diariamente por telefone. Algumas vezes foi Raimundo quem atendeu ao telefone,
começou a estranhar essa amizade da filha. Uma amiga que ninguém conhecia e que
aparentemente não era da faculdade, quase sempre saíam juntas, para ele isso
era muito estranho. Pérola, como sempre, apaziguou o marido, dizendo que isso
era normal.
Eva sabia que o relacionamento delas teria que ser
consumado, mas dessa vez não estava calma, estava extremamente nervosa, não
sabia o que fazer na hora h. Dayane sabia de Guilherme, sabia como havia sido a
primeira vez de Eva e estava a par do doloroso processo de reconhecimento pelo
qual a amada passara.
A noite que elas tiveram foi como um sonho. Dayane morava
sozinha em um pequeno apartamento próximo da clínica. Ao chegar lá, Eva viu uma
linda mesa de jantar.
___ Perfeito. __ disse Eva.
___ Fico feliz que tenha gostado, não sou muito boa
cozinheira, mas arraso nas saladas.
Eva riu, riu alto e beijou Dayane.
Durante o jantar, não pararam de se olhar, de entrelaçar as
mãos, deram comida uma para a outra, tiraram a mesa juntas e foram para o
quarto uma nos braços da outra.
Dayane, a cada peça que tirava de Eva, dava um beijo nela,
assim beijou-a levemente em todas as partes de seu corpo. Eva não procedeu
assim, ao tirar as roupas de Dayane, tocava-lhe o corpo a fim de assegurar-se
de que era real. Nuas se contemplaram com paixão e encantamento.
Dayane passou a língua lentamente por aquele corpo de ébano,
beijou, mordiscou, lambeu sugou. Em espasmos cada vez maiores, Eva
correspondia, gemia, ansiava pela boca de Dayane, no que era prontamente
atendida, até que tudo começava novamente. Eva não sabia bem por onde deveria
começar, mas colocou Dayane de costas, beijando cada centímetro daquela pele
perfumada, virou-a de frente e beijou-lhe os seios perfeitos, sugou-os de leve,
tocou-os e brincou ali por algum tempo.
O ventre de
Dayane era liso e quente, Eva mordeu de leve a cintura bem marcada da namorada,
alternando entre mordidas e beijos, mais abaixo ficou meio perdida, um
resquício de vergonha passou por sua cabeça, mas foi um breve lampejo. Sentiu
na ponta da língua o gosto da mulher que estava com ela, e gostou, passou todo
o seu rosto por ali. Tocou a intumescida vulva de Dayane até que ela gozasse em
sua boca, com espasmos violentos. Eva não permitiu que tal prazer deixasse de
ser sentido em toda a sua boca.
___
Deliciosa. __ disse Eva sem pudor
Dayane,
ficou impressionada com a performance de Eva, imaginava que ela seria mais...
simples. Motivada por isso, beijou, sugou mordiscou cada centímetro do corpo de
Eva, até ela ter um orgasmo.
___ Day, eu não vou
embora da sua vida. Não agora que descobri quem eu sou.
___ Sempre que ouvir essa
música vou pensar em você e na sua promessa.
Sorriram uma para a
outra.
Mesmo com os horários
pouco convencionais de Dayane e o término das férias de Eva, elas conseguiram
manter certa rotina de encontros.
___ Amor, vamos à praia
no sábado? Saio da clínica e vou direto para lá, nos vemos por volta das quatro
horas. __ disse Dayane.
___ Combinado. Saudade de
você.
___ Eu também. Tenho que
ir agora.
A tarde estava linda, Eva
estava feliz, a vida era maravilhosa, estava amando, a faculdade ia muito bem,
não tinha motivos para tristezas.
Dayane estava linda, o
rosa caia muito bem nela, combinava com sua pele clara. Ela não correspondia a
nenhum estereótipo, nada nela indicava masculinidade, muito pelo contrário,
assim como Eva, Dayane era muito
feminina.
___ Vamos tomar uma água
de coco? __ perguntou Dayane __ Tem um quiosque muito legal que inaugurou
agora, estou louca para conhecer.
___ Só se for agora.
Chegando lá, as meninas
perceberam que se tratava de um espaço GLS, logo, se sentiram a vontade para
namorar um pouco. Eva, pela primeira vez, se deixou levar pelo momento e não
teve a preocupação de olhar em torno e ver quem estava passando, estava feliz e
nada aconteceria num dia lindo como aquele.
___ Mãe __ disse Isabel __ aquela ali não é a Eva?
___ Onde, filha?
___ Ali, com aquela
menina, naquele quiosque.
No exato momento em que
Léia olhava na direção que a filha estava apontando, Eva deu um beijo em Dayane.
___ Jesus, foi por isso
que ela terminou o namoro com o Guilherme! Coitado do meu filho, sofreu tanto!
Ela é sapatão! __ disse furiosa __ Vou lá falar com ela, dizer umas verdades
para essa... essa.... invertida!
___ O que é isso mãe?!
Deixe-a em paz!
Mas Léia já tinha o
coração contaminado pela mágoa e pelo ódio, acompanhara a tristeza do filho e
não deixaria barato o que ela achava que Eva tinha feito com ele. Uma ideia se
delineara em sua cabeça. Contaria tudo aos pais de Eva, ainda naquele dia.
___ Vamos, Isabel, vamos.
Não quero continuar olhando isso.
Assim que chegou, Léia
foi à casa de Raimundo e Pérola, ignorando os apelos de Isabel para que não
fizesse isso.
A conversa com eles foi
muito difícil, o pai da jovem ficou encolerizado, dirigiu-se ao quarto da filha
e começou a jogar tudo no chão, arrancou as roupas dela do armário, quebrou o
porta retrato com a foto da família, rasgou algumas anotações de aula que
estavam na mesa de estudo. Assustada com o que havia feito, Léia correu para casa e lá ficou.
Quando chegou a casa e
viu suas coisas reviradas e objetos quebrados, Eva imediatamente entendeu que
algo de muito ruim deveria ter acontecido. Pai e filha ficaram frente a frente,
olhos nos olhos. Os dele, injetados, vermelhos e os dela, decididos e firmes.
___ Sua... __ gritou o
pai.
___ Raimundo, não ouse
falar isso, ela é minha filha também e eu não vou deixar! __ retrucou Pérola.
As vozes estavam
alteradas, apenas Eva observava a tudo como se não estivesse ali.
___ Você sabia! Você
sabia dessa palhaçada! __ vociferou mais uma vez o pai.
___ Eu não sabia de nada,
realmente me pegou de surpresa. Ainda vou ter de me acostumar com a ideia, mas
vou tentar, pelo menos tentar, entender a minha filha.
___ Pois eu não quero
saber! Não a quero mais aqui dentro da minha casa!
___ Na nossa casa! __ retrucou
Pérola, com uma voz cortante.
O marido olhou-a
surpreso. Pérola sempre fora uma mulher tranquila, de voz mansa.
___ Defendendo a filhinha,
que lindo! __ ironizou Raimundo.
Marido e mulher
olharam-se como dois gladiadores na arena.
___ Parem! __ o grito partiu
de Eva, dessa vez __ Parem! Vocês dois parem de brigar.
___ Eu vou sair, não
quero ouvir a sua voz imunda. __ disse Raimundo, em tom amargo, doido.
Ele saiu batendo a porta,
deixando as duas mulheres em meio a tudo aquilo, tendo apenas o amor delas para
consolá-las. Se abraçaram e arriaram no chão lentamente. A filha pousou a
cabeça no colo da mãe, como fazia quando era criança, e assim ficaram por quase
uma hora, até que as palavras foram surgindo.
___ Mãe... e... e agora...
?
___ Eu não sei filha...
___ O meu pai...
___ Vai passar...
___ Nós sabemos como ele
é cabeça dura.
___ Fique tranquila.
___ Mãe, eu preciso te
explicar o que houve, como foi que tudo aconteceu.
___ Filha, dê um tempo
para a sua mãe. Sou uma mulher simples, não tive muito estudo, seu pai também
não. Não é fácil para mim entender tudo isso... Percebi que você estava
diferente, cheia de segredos, sempre no telefone com essa menina... Ah,
filha... pessoas como nós, eu e seu pai, temos mentes empoeiradas, antiquadas,
não temos ideias arejadas como a de vocês jovens. Nós nascemos em um tempo em
que a mulher tinha que casar e ter filhos... a vida se resumia a isso. Mas
você, meu amor, você... nós quisemos que estudasse, que fosse alguém...
___ Mãe... eu não
deixarei de ser alguém... vou continuar sendo sua filha, vou terminar minha
faculdade, vou conquistar o meu lugar no mercado de trabalho... mãe... preciso
tanto de você!
Cada palavra penetrava
como um espinho no coração de Pérola, ela sabia muito bem o que a filha iria
enfrentar. Em sua mente, já se formara todo um cenário de dor e tristeza. Será
que era culpa sua a filha ter ficado assim? Em que momento ela errara na sua
criação? Deveria ter sido mais dura? Como ela gostaria de saber o que houvera e
poder corrigir, mas era tarde demais, o mal já estava feito.
___ Filha, precisamos
conseguir um lugar para você ficar... pelo menos até seu pai esfriar a cabeça.
Eva não respondeu, olhava
em volta assustada. Tudo quebrado, rasgado, sua vida em frangalhos por conta da
ignorância, da intolerância e da desinformação.
Pérola ligou para uma
irmã que morava no “asfalto”, gíria do morro para indicar pessoas que moravam
fora da favela. Explicou superficialmente o que ocorrera, limitando-se a dizer
que Eva tivera uma briga com o pai e teria de passar uns dias fora de casa. A
tia pediu que a menina fosse imediatamente.
Chegando lá, Joana disse
que ela poderia ficar no antigo quarto de Glauce, prima de Eva, que casara
recentemente. A jovem não tirou nada das bolsas que levara, deixou tudo como
estava, encostado em um canto da parede, como se com aquilo pudesse esquecer da
cama e do quarto diferente do seu, da vida, que dali para frente, não seria a
mesma, e dormiu, dormiu um sono pesado e sem sonhos até o dia seguinte.
A tia esperou que ela
acordasse para tomarem o dejejum juntas.
___ Bom dia, tia.
___ Bom dia, querida.
O café animou-a um pouco.
___ Tia Joana, sempre
gostei muito da senhora...
___ Eva __ atalhou Joana
__ não precisa falar agora. Imagino que algo de muito sério deve ter acontecido
na sua casa para você ter saído de lá assim.
___ Eu... eu quero falar,
preciso falar, não quero mais me esconder.
Eva contou sua história,
desde sua infância até o dia anterior, se emocionou ao falar do pai e de como
queria agradá-lo, de como lutou contra sua atração por suas amigas, de como foi
difícil passar por tudo aquilo.
___ Eva, você ainda não
ligou para a Dayane, ela nem imagina o que aconteceu com você. Ligue para ela,
chame-a para vir aqui, assim vocês poderão conversar melhor. Mas antes de fazer
isso, ligue para Pérola, ela deve estar preocupada.
___ Tia, você é
maravilhosa! Obrigada.
Eva tranquilizou a mãe,
logo depois ligou para a namorada, preferiu não adiantar o assunto pelo
telefone, apenas deu o endereço da tia e disse que estaria lá o dia todo, que
não iria à faculdade naquele dia.
Dayane ficou indignada
quando ouviu o relato do que acontecera na casa de Eva. Sua trajetória havia
sido muito diferente, seus pais aceitaram sua opção sexual desde que ela contou
para eles, até porque Dayane não tentou esconder, jamais tivera um namorado,
mas entendia Eva e não a recriminaria.
___ Eva, quer ir para o
meu apartamento?
___ Dayane, eu te
agradeço, mas não vamos precipitar as coisas.
___ Não estou
precipitando nada, eu te amo, quero ficar com você. Está na hora de você
conhecer os meus pais, eles vão te adorar. Venha... estou pedindo.
___ Dayane, eu também te
amo. Vamos fazer o seguinte então: ficarei mais um tempo aqui com a minha tia,
vou pegar o restante das coisas na minha casa, vou me estabilizar um pouco. Era
para eu te contar que estou participando de um processo seletivo para um
estágio remunerado, acabei esquecendo. Vamos ver como tudo isso vai ficar.
Depois te dou uma resposta definitiva, tá bom?
___ Tudo bem, Eva, eu
entendo.
___ Quanto aos seus pais,
também quero conhece-los, e quero que você conheça a minha mãe, ela também vai
gostar muito de você.
Joana havia deixado as
meninas a sós para conversarem, mas Eva chamou-a e fez questão que ela soubesse
quem era Dayane. As duas tiveram uma empatia mútua, pareciam velhas amigas,
chegaram inclusive a trocar receitas.
Eva foi selecionada para
o estágio, começaria a trabalhar em breve, finalmente a vida começava a entrar
nos eixos, falava com a mãe todos os dias e às vezes se encontravam para
conversar um pouco. O pai continuava irredutível, não queria saber da filha,
mas Pérola já estava mais tranquila, sabia que Eva estava bem na casa de Joana.
___ Tia, podemos
conversar um pouco.
___ Claro.
___ Tia, agradeço por
tudo o que fez por mim, mas vou aceitar o convite da Dayane para morarmos
juntas. Agora que estou trabalhando, já não vou me sentir um peso para ela,
acho que pode dar certo.
___ É assim que se fala!
Pode contar comigo sempre que precisar.
___ Sei disso, tia e
agradeço muito.
Na mesma praia, no mesmo
quiosque, Eva contou para Dayane sua decisão, o sorriso que iluminou o rosto da
médica sanava qualquer dúvida que pudesse haver no coração da estudante. O
beijo foi só um brinde a mais uma manhã ensolarada do Rio de Janeiro.